IT – A Coisa (1990)
O filme “IT”, conhecido no Brasil como “A Coisa”, é uma adaptação do livro homônimo de Stephen King, dirigido por Tommy Lee Wallace em 1990. É uma das obras mais famosas do autor, ao lado de “Carrie, a Estranha”, “O Iluminado” e “Christine, o Carro Assassino”.
Nesta resenha, pretendo abordar os personagens de forma mais aprofundada, uma vez que acredito que a maioria já tenha visto o relançamento de 2017 do filme. Vou explorar aspectos mais sutis dos protagonistas para oferecer uma perspectiva diferente do habitual.
Personagens principais:
Bill Denbrough
Vou começar falando sobre Billy, pois ele é o primeiro ligado por Mike. Billy foi uma criança com muitos amigos, um típico garoto popular entre os colegas da escola. Apesar de tentar esconder, Billy era um irmão carinhoso com o pequeno Georgie. Ele tinha um talento excepcional para contar histórias e era um bom orador, assumindo naturalmente a liderança do grupo e inspirando seus amigos a compartilharem do mesmo desejo que ele.
Billy perde seu irmão mais novo em um dia chuvoso, Georgie, quando não queria brincar com ele por estar doente. Desde então, Billy carrega a culpa pela partida prematura do garotinho, alimentando um desejo ardente de vingança pelo ocorrido.
Na vida adulta, Billy se torna um escritor muito bem-sucedido, embarcando em sua primeira adaptação cinematográfica e trazendo consigo um pouco do talento que possuía na infância. Sua personalidade continua marcante na vida adulta, com seu jeito cativante de unir as pessoas e apoiá-las mutuamente, além de expressar abertamente seus sentimentos, inclusive o medo.
Ben Hanscomb
Ben é o gordinho da turma e, desde sua recente chegada a Derry, tornou-se rapidamente alvo dos valentões da escola. Apesar disso, ele é um garoto extremamente inteligente, com talento para arquitetura desde a adolescência. Ele demonstra seus conhecimentos ao liderar a construção de uma pequena represa com os meninos, em um bosque local, mostrando-se um verdadeiro gênio durante o processo.
Além disso, Ben é um menino muito carinhoso, com sentimentos pela única garota do clube, e um instinto protetor em relação aos amigos, sendo fiel a eles em todas as circunstâncias. Durante a infância, Ben enfrenta diversas situações complicadas, incluindo ter que morar com primos, enfrentar dificuldades financeiras com a mãe e lidar com a perda de seu pai durante a Guerra da Coreia.
O lado poético de Ben também se manifesta quando ele escreve uma carta para declarar seus sentimentos por Beverly, que mais tarde é recitada por ela quando adultos. Na vida adulta, Ben se torna um renomado arquiteto, com prêmios e artigos em jornais, demonstrando mais uma vez como seu talento na infância se reflete em sua vida adulta.
Beverly Marsh
Como mencionado anteriormente, Beverly é a única menina no Clube dos Losers (Perdedores), sendo sempre muito bem acolhida pelos meninos e cuidada do melhor jeito possível. No entanto, a vida de Bev não é fácil. Com um pai agressivo e possíveis problemas com álcool, além de dificuldades financeiras, ela enfrenta desafios constantes. No filme, não ficamos exatamente sabendo o que aconteceu com a mãe dela, mas é evidente que o pai a maltrata frequentemente.
Apesar de se tornar uma mulher de sucesso em uma empresa de roupas, Bev não encontra verdadeira felicidade. Ela acaba escolhendo ficar com um homem que se assemelha muito ao seu pai em termos de caráter: agressivo, manipulador e abusivo. Essa escolha me fez refletir muito. Talvez, na mente dela, fosse comum um homem tratar uma mulher dessa maneira, ou talvez ela acreditasse que não merecesse algo melhor.
No entanto, quando ela é contatada por Mike, Bev se rebela contra essa situação e parte para Derry para ajudar seus amigos. Sua lealdade, amor pelos amigos e suas habilidades de mira se tornam fundamentais para o grupo desde o início.
Richie Tozier
Richie sempre foi o mais descontraído da turma, sempre fazendo uma piada aqui ou ali para tentar fazer os amigos sorrirem, mesmo nas situações mais tristes. Com seus óculos remendados com fita adesiva branca e sua grande coragem, na infância ele lutava bravamente com seus amigos contra os valentões, enfrentando-os sempre com um jeito debochado para esconder o medo que sentia de fato.
Como adulto, Richie alcançou grande sucesso como comediante de TV, tendo uma grande audiência e sendo bem conhecido. Mesmo sentindo medo em todos os momentos, e na verdade querer partir com o próximo voo, ele ficou lá para apoiar seus amigos, dando força, encorajamento e distraindo-os com suas brincadeiras.
Richie mostra que é possível enfrentar o medo rindo na cara do perigo, pois ao rir, o medo começa a perder seu poder e a se dissipar.
Eddie Kaspbrak
Eddie foi o menor do clube durante sua infância, sofrendo com ataques de asma e apresentando-se como uma pessoa frágil. No entanto, Eddie era perfeitamente saudável; era sua mãe que tinha problemas. Ela o convencia de que precisava tomar todos aqueles remédios e cuidar-se dos germes, pois ela era muito doente, demonstrando assim um clássico caso de síndrome de Munchausen e uma mãe muito possesiva.
Mesmo quando um farmacêutico tentou alertá-lo de que tudo não passava de efeito placebo, o garotinho continuou acreditando na mãe, só descobrindo a verdade na vida adulta.
O filme não deixa claro o que Eddie se tornou, mas ainda morava com sua mãe e continuava tomando os remédios, mesmo sabendo que não faziam efeito de fato.
Ao longo do filme, descobrimos também que Eddie era virgem aos 40 anos e nunca havia sentido interesse em alguém. Isso me levou a questionar se talvez ele fosse gay, mas com medo de se assumir, devido ao seu jeito afeminado, ou se era assexual e realmente não sentia nada por ninguém.
Mesmo com a aparência de uma pessoa muito medrosa, Eddie provou o contrário ao defender seus amigos cara a cara com “a coisa”. Do seu próprio jeito, ele mostrou que até mesmo o menor podia ser muito corajoso quando necessário.
Stanley Uris
Sobre Stan, tenho dificuldade em encontrar as palavras adequadas para descrevê-lo. Ele era o mais quieto e medroso da turma, com uma mania engraçada de ficar acariciando a orelha quando sentia medo. Ele foi o maior alvo de “a coisa”, morrendo nas mãos dela.
Na infância, Stan demonstrava interesse em observar pássaros e era o menos entusiasmado para participar da caçada à “a coisa”. Ficava evidente que ele só participava porque se sentia pressionado e não queria decepcionar seus amigos.
Na vida adulta, Stan se mostrava como um pai clássico e bondoso, apesar de ainda não ter filhos. No entanto, ao receber a ligação de Mike, acredito que a pressão era tão grande que ele não aguentou. Em vez de dizer que não queria voltar a Derry, ele preferiu acabar com sua vida, entregando-se ao medo de decepcionar e acabando com toda a pressão que sentia.
Mike Hanlon
Mike é o único aluno negro que pude observar na escola, tornando-se alvo de racismo por parte dos valentões. Ele se tornou amigo dos outros por acaso, quando os encontrou durante uma fuga dos valentões pelo bosque, perto de um trem abandonado. Mike desempenhou um papel essencial, pois tinha provas da existência de “a coisa” que descobrimos através do álbum antigo de seu pai, que esse palhaço se chamava Pennywise.
Foi Mike quem os uniu novamente ao chamar um por um de volta para Derry, sendo os olhos e os ouvidos durante todos esses anos, esperando o retorno de Pennywise. Mike sempre foi muito interessado em história e acabou se tornando bacharel da biblioteca local. Sem Mike, os outros jamais se lembrariam do que aconteceu há 30 anos, não teriam os brincos de volta para enfrentar “a coisa”, e todo o enredo deste filme não faria sentido.
Agora para o filme:
O filme consiste em duas fases de tempo distintas: a adolescência dos personagens, nos anos 60, e a vida adulta, nos anos 90. Ele narra a história de um grupo de crianças que enfrentam o grande mal que assombra a cidade na forma de um palhaço.
O drama se passa em Derry, uma cidade do estado de Maine, e destaca como a amizade entre os sete amigos pode superar qualquer obstáculo, seja o bullying dos valentões liderados por Henry, ou o próprio Pennywise, o terrível monstro devorador de crianças. Cada criança contribui de maneira fundamental para o “Clube dos Losers”, levando-os à vitória. O filme enfatiza a importância da verdadeira amizade e da confiança mútua, mostrando como o cuidado e o apoio mútuos foram fundamentais para cada um deles.
Além disso, o filme retrata de forma autêntica a atmosfera dos anos 60, com sua simplicidade e, ao mesmo tempo, as dificuldades enfrentadas, como o racismo e o bullying. Também aborda as lutas pessoais de cada criança, como a perda de um irmão, um pai abusivo ou uma mãe superprotetora, oferecendo uma visão vívida da vida na época. Nos anos 90, em um ar de modernidade vemos os personagens bem-sucedidos em suas carreiras, como arquitetos e escritores, demonstrando seu grande potencial.
Apesar de não ter os melhores efeitos especiais, o filme se destaca pela sua trilha sonora e pelos efeitos que arrepiam a espinha. É uma obra-prima que merece ser assistida por todos, pelo menos uma vez na vida.
Uma dica: se um dia você estiver brincando com um barquinho na rua e ele cair no bueiro, é melhor deixá-lo lá. Nunca se sabe né…
Índice
- Atores:Harry Anderson (Richie Tozier),Dennis Christopher (Eddie Kaspbrak), Richard Masur (Stan Uris), Annette O'Toole (Beverly Marsh), Tim Reid (Mike Hanlon), John Ritter (Ben Hanscom), Richard Thomas (Bill Denbrough), Tim Curry (Pennywise / A Coisa), Michael Cole (Henry Bowers), Jonathan Brandis (Bill Denbrough - 12 anos), Brandon Crane (Ben Hanscom - 12 anos), Adam Faraizl (Eddie Kaspbrak - 12 anos), Seth Green (Richie Tozier - 12 anos), Ben Heller (Stan Uris - 12 anos), Emily Perkins (Beverly Marsh - 12 anos), Marlon Taylor (Mike Hanlon - 12 anos), Jarred Blancard (Henry Bowres - 14 anos)
- Direção:Tommy Lee Wallace
- Produção:Allen S. Epstein, Jim Green, Mark Bacino
- Roteiro:Lawrence D. Cohen Tommy Lee Wallace
- Gênero:Terror, Suspense, Drama
- Lançamento:1990